CORRIDA MARATONA LOCHNESS - INVERNESS 2022 - MINHA PRIMEIRA MARATONA!
Este post tem um sabor especial e dedicado apenas a ela, a minha primeira maratona! Posso agora me proclamar maratonista, após correr/andar/trotar (tudo junto e misturado) 42km e 195 metros.
04:45:19 segundos depois e maratonista! |
Posso dizer logo que foi chão, foi dolorido, mas foi divertido demais! Fiquei pensando em como descrever esta maratona e acho que antes de correr ela, fantasiei muito ela, imaginando como seria a minha chegada, os choros, os discursos, os abraços...
Teve abraço, teve sensação de alegria, mas também cheguei pensando: "Poxa eu consegui que conquista, mas já pensando qual seria a próxima". Não deu nem muito tempo de processar que eu tinha de fato concluído ali naquele dia de 02 de outubro um dos meus maiores sonhos depois de iniciar no mundo das corridas.
Mas a história começa bem antes da linha de chegada, quando eu decidi correr este ano de 2022 a primeira maratona. Vários posts antes deste contam a minha saga até chegar aqui. Desde a minha entrada na assessoria especializada em corrida Recife Runners, a minha dedicação a uma dieta que eu lutava para cumprir em anos anteriores e meu foco em fazer o melhor ciclo de preparo de maratona que eu poderia. Não vou entrar em detalhes em cada treino, pois tudo foi já foi devidamente contado, mas posso resumir que o ciclo de preparo e todo o processo durante ele foi o que mais me marcou, até mais que a maratona, vai entender. As amizades, as conquistas a cada longo muito maior que outro realizado, as dicas dos treinadores, os treinos de fortalecimento e até os treinos madrugada adentro para não poder pegar o sol escaldante do Recife nos finais dos longos.
Deixo aqui registrado algumas fotos do meu ciclo que me marcaram:
Mas vamos também contar o porquê de escolher esta maratona tão peculiar... Eu estava buscando uma maratona para correr no Reino Unido em 2022, pois casaria com uma viagem em outubro que eu ia realizar com minha família (pais , irmãos e esposa) depois de muitos anos desde minha última viagem em família, quando eu era ainda criança. Pois é, esta ocasião em especial casou também com a visita a minha irmã caçula que mora na Inglaterra e durante a pandemia teve um filho, meu primeiro sobrinho de sangue: Jasper. Todos felizes e empolgados em conhecer este jovem inglês-brasileiro.
As escolhas de maratonas estavam limitadas no período de outubro, pois seria a data da minha viagem e férias programadas. Haviam 2 opções: Londres , a tão famosa major e cobiçada por muitos corredores ou a maratona de Lochness que aconteceria na mesma data da de Londres. Para entrar em Londres, há poucas opções: sorteio por loteria (que digo é bem difícil de entrar 1 chance em 4000), por tempo qualificatório ou por agência de turismo. Pesquisei pela agência, mas já tinha visto que ficaria bem acima do meu planejamento financeiro. Ou seja, Londres se não fosse por sorteio, adeus. Não fui sorteado, e me restou a opção da Maratona de Lochness. Esta maratona eu já estava paquerando há alguns anos atrás e falava para mim mesmo: "Se eu corresse uma primeira maratona ou uma das primeiras seria lá".
Lochness tem o nome conectado ao famoso e icônico Lago Ness. Quem não lembra do monstro Ness nos clássicos filmes antigos e fábulas escritas em contos e livros. Lembro bem quando criança que meu pai me falava desse monstro e sua fábula de uma serpente marinha que um mergulhador no século XIX deu de encontro ao mergulhar no lago com esta famosa serpente marinha e que se assustou, decidindo depois daí nunca mais mergulhar no lago. A notícia se espalhou pelas redondezas e daí anos depois mais pessoas tinham avistado a criatura que diziam ter uma aparência aterrorizante. Isto foi suficiente para que o jornal local criasse histórias e teorias sobre o famoso monstro e ofertas financeiras para quem a capturasse.
O monstro nunca mais foi avistado e os poucos que dizem terem visto ou tirado uma foto dele ainda geram as superstições da existência real desta criatura. Fábula ou não, monstro Ness é o ícone da cidade de Inverness , Escócia.
Voltando para o mundo da corrida, a Maratona de Lochness é uma das corridas consideradas mais charmosas e com vistas exuberantes do Reino Unido, já considerado umas das top 10 corridas que você precisa correr por lá. Eu sempre achei legal em seu perfil nas redes sociais a mistura de campo, corrida, e a mística por trás do monstro, sim o mascote da corrida é o Monstro Nessie.
Já na vigésima edição, em 2022, me inscrevi nela como ser a minha candidata para primeira maratona. Sou um nerd convicto, criado em fazendas durante as férias (o campo sempre me atrai), e a simplicidade dela sem aquela pomposidade das majors ou corridas famosas me fisgou. Não me preocupava com o tempo, e sim curtir ao máximo a experiência da corrida e da energia do local.
Inscrições realizadas, eu e minha esposa correríamos por lá. Ela correria 10km (a corrida tem opções de 05km, 10km e 42km) e eu correria a maratona.
Vou pular no tempo, pois aqui quero me dedicar aos dias próximos a maratona e à maratona em si. Decidimos chegar numa quinta-feira , 3 dias antes da prova, até para nos aclimatarmos e também aproveitar um pouco da cidade. Saímos de Londres e pegamos um vôo low cost até Inverness. Existem outras opções via ônibus ou trem, mas a mais rápida e preferencial pela população é o avião.
A grande surpresa dos vôos e que eu não estava preparado foi a limitação das bagagens de mão de apenas líquidos com volume até 100ml. Levei meu isotônico da Jungle como opção para prova, mas não me atentei que ele tinha mais de 750ml. Tentei antes da inspeção separar em pequenas garrafas, mas foi em vão. O inspetor inglês ao ver a substância roxa em uma garrafinha sem nenhuma indicação de volume me encarou e já pediu para jogar fora, e eu claro nervoso sem nenhuma reação pois não tinha como armazenar aquele líquido roxo. Resultado isotônico todo para o lixo e fiquei claro já preocupado, os deuses da corrida não iam deixar tudo correr assim tão fácil , claro né. Aprendizado : Malas de mão para o exterior não termos líquidos acima de 100ml. Me lembrarei isto para o resto da minha vida.
O clima em Inverness em outubro é um frio relativamente agradável para os ingleses, claro. Nordestinos como eu que vivem sobre calor constante do Recife, não vacilariam em entrar no Reino Unido sem pelo menos 2 casacos. A temperatura estava em torno de 8-10 graus. Saídas na rua sempre com casaco, umas 2 camisas por baixo e luvas.
A cidade me lembra muito os livros de história com o formato de uma cidade da época medieval, os famosos burgos com castelos, pontes, casas antigas sobre pedra e um rio cruzando ao longo da cidade. Uma cidade pequena, mas muito acolhedora. Nossos passeios ao longo da cidade nos lembraram muito a cultura escocesa, o qual eles tem muito orgulho de mostrar: músicas e os famosos kilts. Vimos Kilts sendo exibidos nas vitrines chiques da cidade.
A história da cidade é curiosa também pois lá foi centro da famosa guerra jacobina entre ingleses e os jacobitas, quem lembra da série Outlander vai realmente lembrar vários dos elementos na cidade. Aproveitamos os dias para passear e até curtir um passeio local com um guia nativo para contar um pouco da história da cidade.
Passeios em dia, aproveitei também para fazer um treino de aclimatação na cidade, e fui correndo seguindo o rio chegando até a largada da maratona. Treino foi mais um passeio turístico, pois a cada 15 minutos parávamos para bater fotos, aproveitando um pouco da bela paisagem.
A busca pelo kit na expo foi bem tranquila, por sinal, uma expo bem modesta com algumas lojas da região e marcas expondo seus produtos como a Garmin e a Hokka. Ficamos mais encantados mesmo com os souveniers da prova: boné e chaveiros: mimos para mim e para meus treinadores em Recife.
Kit em mãos, fui descobrir um lugar para almoçar. O desafio da cidade é que boa parte dos locais para comer exige reserva antecipada, então buscar um local de massas para o famoso jantar pré-maratona foi um desafio. Todos os restaurantes lotados já com reservas fechadas, o único que encontrei na região tinha uma vaga para daqui a uma hora, ou seja era pegar ou largar, logo antecipei o meu jantar de massas para o almoço mesmo.
A noite foi um jantar mais leve com uma salada em um restaurante indiano duvidoso, mas o único disponível sem reserva na cidade e sem ser algo oleoso, gorduroso ou pesado demais. A noite foi curta demais, e claro a ansiedade de olho no relógio para não perder a hora.
A largada seria a 42km da cidade de Inverness, a prova é pela rodovia que vai beirando o rio até a chegada em Bught Parks, um área de mais de 100m2 verde para facilitar a concentração dos maratonistas cansados e guerrilheiros. Para largada adotei uma estratégia de pegar um táxi agendado, pois andar pelas ruas de Inverness às 04:00 da manhã em frio de 2-3 graus não seria algo viável para mim. Um detalhe importante é que você chega no local da prova 1hr antes e vai de ônibus fretado pela organização até a largada. A prova diferente do Brasil é marcada para as 10hrs da manhã, em vez das 06:00. Realmente pelo frio fica difícil alguém corajoso em querer correr pelas ruas em 2-3 graus.
Para a prova segui a estratégia de utilizar um corta-vento com 1 camisa que confeccionei especialmente para a prova, uma homenagem a meu blog Correndo por aí e as marcas de todos os apoiadores que me auxiliaram no meu preparo (Assessoria, fisioterapia, fortalecimento e nutrição). Usei manguitos para que após eu retirasse meu corta-vento , seria minha proteção ao frio. Buffer no pescoço e a toca para proteger do frio. Toda esta armadura para suportar o frio da largada.
Comi uma banana e uma salada de frutas de jejum com suco de laranja antes da largada, dicas do meu nutricionista. Já que meu corpo precisaria de algumas calorias de reserva para a prova que me esperava. Eram 42kms.
A largada concentrava mais de 5000 pessoas inscritas, era muita gente, acho que a maior prova que eu já tinha participado desde a São Silvestre no Brasil. Corredores de todas nacionalidades, gêneros e com apenas camisetas no frio. Sim tem corredores que iam só de camiseta para correr no frio da Escócia. Antes da largada tivemos uma oportunidade única de ouvir a banda local com suas gaitas de foile desfilando entre os corredores. Pequenos mimos mas que acrescentam ainda mais a mística e da cultura local da Escócia. Ponto para organização!
Depois de várias mijadas pelos matos próximos da largada, foi dada a largada para minha primeira maratona da vida. Usei apenas um fone de ouvido e do outro ficaria atento ao sons locais e também qualquer aviso de emergência. Montei uma playlist dedicada a maratona no Spotify contendo todos os sucessos que usei para correr de 2018 até 2022, foi muita trilha sonora viu me acompanhando.
Os primeiros 5kms foram bem tranquilos, e estava conseguindo impor meu pace planejado de 05:50-06:00 min/km. Mas correr com toda a parafernália de roupas realmente não me deixava muito à vontade, mas era isso ou correr no frio. O percurso é considerado de moderado a difícil porque fui entender que ele é uma prova praticamente com ladeiras descendo e vários trechos com ladeiras de altimetria até 20-50 metros. Ah, como valeu cada treino da assessoria em ladeiras e viadutos no Recife Runners, não tenho o que reclamar!
Nos 10kms eu já comecei a sentir calor e foi a hora de me despir, amarrei o corta-vento na cintura , tirei a toca e daí fui correndo já com um pace mais leve de 06:10-06:20 min/km. Já falei que tinha muitas ladeiras ? Sim, subidas e descidas constantes.
A cada 6 km um ponto de água com hidratação, o que me ajudou muito a manter-me hidratado durante toda a prova. Sem isotônicos, minha refeição era na base dos géis de carboidrato a cada 5km e minhas goiabinhas e barra de ceral. Foram fundamentais, pois eram os carboidratos que me mantinham com energia e força para correr durante toda a prova.
Um outro ponto a favor foi a estréia do meu tênis da Saucony Endorphin Pro 3, que tênis! Muito comfortável e excelente amortecimento. Sei que a regra de não correr com tênis novo antes de uma prova é uma lei para os corredores, mas preferi arriscar um tênis mais confortável do que ir com um tênis mais sofrido e com amortecimento mais desgastado que eu tinha planejado. Vai entender minha cabeça, sei que minha esposa ficou com raiva dizendo que eu inventei de inaugurar tênis novo em dia de prova, ela tinha razão , tive que ouvir calado. Se minha treinadora viste esta cena, certamente não sairia sem ter um belo puxão de orelhas.
Km 15 e já sentindo os primeiros desafios das ladeiras, e aí foi o bom senso que veio a tona. Eu sabia que haveria pelo menos umas 2-3 ladeiras de 100-200metros pela frente. Então a tática foi andar quando a ladeira era muito íngreme e voltar a correr após ultrapassa-la. O objetivo em mente era não quebrar lá no final, nos últimos 10kms. O famoso hit the wall da maratona : 34kms em diante.
Minha cabeça vinha pensando em tudo que eu vivira até ali, pandemia, corridas, treinos, trabalho, relacionamento e até contemplação. Sim a vista do local é maravilhosa, especialmente próxima ao lago.
Km 21, meia maratona e vamos seguindo, já pensando que chão viu ainda falta para completar. Correr maratona exige um preparo mental e físico, portanto digo sem medo que se você quer fazer uma bem feito, saiba que exige dedicação e muitos treinos: longos, tiros, contínuos, fortalecimento, nutrição e até fisioterapia. Todo este investimento vale se você procura fazer uma boa prova e terminar bem, e este era meu foco: sair dali inteiro e com vida kkk.
Km 34, e mais uma ladeira, 100 metros andando, via gente comigo ali também na mesma labuta andando, correndo, trotando , todas as idades cada um com sua história. Faltavam 8hrs, e já com mais de 3hrs de prova. Falta chão, pensava comigo.
Km 40 e já vendo os primeiros sinais da cidade de Inverness, população local vibra muito com a corrida e incentiva os corredores ali , guerreiros incansáveis em busca de sua glória pessoal. Km 41 e consegui ver o grito da minha esposa já perto da chegada, saber que estava bem perto da linha chegada me deu um alívio. Acho que o cansaço de correr por tanto tempo, as pernas já sentindo as dores das passadas lentas em ritmo de 06:30. Falta pouco, Marcel.
De fato no km 41, você já solta tudo querendo correr o que você tem ou não tem dentro de você, é uma energia que você não sabe nem que tinha guardado. Como assim eu querendo correr a pace de 06:00 ? Mas foi isso mesmo até a linha de chegada, dei o me máximo para atravessar o pórtico da maratona de Lochness.
E assim concluí com tempo de 04:45:19 segundos. Sim, me tornava maratonista! Levantei os braços, agradeci a Deus e fui para os braços da minha esposa. Que sensação incrível de conquista, realização , dor e claro agradecendo por parar de correr .
Busca da medalha, camiseta de finisher e uma bela sopa da região quentinha para recuperar as energias. Ainda ganhei banana, e uma cerveja rica em carboidratos para celebrar o término.
Muitas fotos, recordação em mente de umas provas que vão me marcar por muito tempo. Infelizmente não pude ver o monstro Nessie, mas tirei umas fotos com ele na chegada em uma versão "balão".
Descanso merecido com direito a cerveja escocesa e o famoso fish and chips, prato típico inglês para celebrar minha prova e os 42kms.
Hora de retornar para casa, ou melhor para Londres, pois tinha agora 15 dias para curtir as férias, muitos passeios com a família e com meu querido sobrinho Jasper. Abaixo um pequeno vídeo da prova e algumas estatísticas.
Recomendo para todos aqueles que procuram uma prova desafiante com uma vibe mais campestre, os visuais são espetaculares e a organização escocesa não deixa nada a desejar. Lochness Marathon é uma excelente escolha para aqueles que procuram uma prova com desafios técnicos e vistas exuberantes de tirar o fôlego. Vale demais! Obrigado Inverness pelo acolhimento!
A pergunta que todos fazem, quando terminam a primeira maratona, é : "Qual e quando será a próxima ? " kkk Exato, me apaixonei pela distância! 2023 tem mais, quem sabe!
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